domingo, 27 de setembro de 2009

O artista inconfessável








Fazer o que seja é inútil.



Não fazer nada é inútil.



Mas entre o fazer e não fazer



mais vale o inútil do fazer.



Mas não, fazer para esquecer



que é inútil: nunca o esquecer.



Mas fazer o inútil sabendo



que ele é inútil, e bem sabendo



que é inútil e que seu sentido



não será sequer pressentido,



fazer: porque ele é mais difícil



do que não fazer, e dificil-



mente se poderá dizer



com mais desdém, ou então dizer



mais direto ao leitor Ninguém



que o feito o foi para ninguém.







João Cabral de Melo Neto



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